INTRODUÇÃO
“EU LEITOR” – Maria Adriana Pereira Mendes
“EU LEITOR” – Maria Adriana Pereira Mendes
É engraçado que durante os 58
anos da minha vida nunca me tinha passado pela cabeça fazer uma reflexão sobre
o meu “Eu Leitor” e se fiz bastantes reflexões…
A leitura esteve sempre ligada ao
trabalho, primeiro ao trabalho escolar e com o passar dos anos ao trabalho
profissional. Vivi, sobretudo, a leitura útil, a que sustentou a minha
formação. Dos Têxteis à Robótica, passando pela Contabilidade e Filosofia, penso
ter lido imensos autores, que não registei na minha memória.
No entanto, na minha memória
ficou o primeiro livro que desfrutei e que marcou a minha infância de várias
maneiras. Foi a minha avó que me ofereceu, “A Cartilha Maternal” do grande
pedagogo João de Deus. Tinha então 6 anos. A sua principal preocupação era que
não me atrasasse na aprendizagem das primeiras letras/palavras. Mais uma vez me
confronto com um ”eu leitor” utilitário, embora ancorado na preocupação da
minha avó. Também me lembro de ler alguns livros da Anita, quando ia brincar
para casa dos filhos do Diretor da Fábrica onde o meu pai trabalhava. Os
títulos que ficaram na minha memória, “ Anita vai ao Circo” e a “Anita dona de
casa”. Estes livros possibilitavam-me a companhia de uma outra menina, a Anita,
que vivia experiências que podiam ser semelhantes às minhas, mas que me
emprestavam uma dimensão de sonho…
É claro que mais tarde também
passaram pela mesinha de cabeceira do meu quarto, alguns clássicos como, “Romeu e
Julieta”, “Amor de Perdição”, “Frei Luís de Sousa”, “Os Maias”, “Crime do Padre
Amaro”. Este último, lembro-me muito bem que minha mãe não achou muita graça a
essa leitura… outros tempos.
Acho que tinha alguma tendência para as
leituras um pouco dramáticas. Como o meu percurso escolar foi atípico para a
altura, pois quando terminei o 5º ano, hoje 9º, fui trabalhar para um
escritório. O meu contacto com os livros foi menor que aquele que gostaria. A
minha relação com os livros continuou a ser não para sonhar ou por lazer, mas
sim como uma necessidade de evoluir como pessoa. Porque mesmo a trabalhar quis
continuar a estudar no ensino noturno. Contudo a leitura nunca me foi
indiferente. Pela leitura tornei-me mais capaz, com objetivos vincados que
procurava satisfazer com o que procurava nos livros. Sempre útil, sempre apta a
ajudar-me a experiência de uma leitura focada foi, pela minha vida, uma
orientadora de percurso e uma luz de esperança. Permitiu-me ir caminhando,
chegar mais longe.
O “eu leitor” que reconheço em
mim é curioso e voluntarioso. Não guardo nostalgias de romances não lidos, ou
de ensaios que me fizessem refletir em grandes temáticas existenciais donde
compreendo que a leitura está, intimamente, ligada a cada percurso de vida. O
meu foi este e a leitura teve o seu papel na minha identidade.
Hoje, apesar da maioria das
leituras continuarem a ser de caráter profissional, já vai aparecendo tempo
para sonhar e degustar os livros, que durante muito tempo não podiam aparecer
por circunstâncias da vida, impedindo-me de “Sonhar pela mão de outrem…” como
disse Fernando Pessoa.
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